Tendências que irão moldar o mercado de trabalho em 2022

17 Janeiro, 2022

Investimento em competências da força de trabalho é fator crítico do sucesso das empresas: 66% dos profissionais acreditam que só manterão o seu potencial de empregabilidade mediante ações de upskilling reskilling, diz o Grupo Adecco

 

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No arranque de 2022, a Adecco Portugal apresenta as seis tendências que irão moldar o mercado de trabalho em 2022 e que vão marcar o mercado nacional: escassez de talentos, proteção social, transição verde e liderança responsável. É o ano da grande reavaliação dos profissionais, dos contratos de trabalho rumo à flexibilidade, enquadrados por nova legislação, e do impacto sistémico da pandemia no mercado, política, regulamentação e transição digital. Apesar dos desafios e incertezas, 2022 será o ano da consolidação de um novo paradigma do mercado de trabalho que veio para ficar.

Nos últimos 12 meses, líderes e organizações continuaram a adaptar-se à medida que a pandemia de Covid-19 se prolonga. Os líderes empresariais têm-se deparado com questões que afetam profundamente o ambiente de trabalho, cultura empresarial e profissionais. Eis as seis tendências que a Adecco Portugal define como mais marcantes em 2022:

 

1. Escassez de talentos

A escassez de talentos surge como o maior desafio no mercado de trabalho em 2022. As razões são inúmeras e prendem-se com tendências que já se desenhavam no período pré-pandemia, como a crescente automatização de funções e digitalização, a transição para uma economia verde, a importância do ensino superior em substituição dos percursos formativos intermédios/profissionais e o desfasamento entre os modelos educativos e as necessidades reais do mercado de trabalho.

Os últimos 24 meses vieram agravar o problema: os países que fecharam as fronteiras dificultaram a mobilidade dos talentos; muitos países viram um número desproporcionadamente elevado de trabalhadores a optar pela reforma antecipada. Finalmente, o próprio vírus impactou a escassez de talentos, ao afetar a saúde e a capacidade das pessoas ou a sua vontade de regressar ao local de trabalho. Esta é uma das razões pelas quais a força de trabalho híbrida casa/escritório veio para ficar em 2022. Ou melhor, para o futuro.

A cadeia de abastecimento e a crise de escassez de talentos terão também impacto nas perspetivas económicas em 2022. A recuperação global continua, mas a sua dinâmica tem abrandado e está a tornar-se cada vez mais desequilibrada, de acordo com as últimas Perspetivas Económicas da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), que prevê uma recuperação do crescimento económico global para 4,5% em 2022, antes de se fixar em 3,2% em 2023. A contingência? Os países precisam de investir rapidamente em esforços de qualificação e requalificação, se quiserem evitar um aumento a longo prazo do desemprego. Portugal, na cauda da Europa em termos de crescimento económico, tem o desafio acrescido de eleições e de como um novo governo poderá ser determinante para a visão de um mercado de trabalho que é, no mínimo, desafiante.

 

2. Transição para economia verde

discussão de elites e que terá que migrar para a economia real.  Em 2021, muito se falou das competências ecológicas, mas não se conseguiu abordar de forma abrangente como fazer essa transição acontecer de uma forma justa para as pessoas. A maioria dos compromissos assumidos negligenciaram a abordagem do “como”, para além do financiamento.

Em 2022, é urgente o casamento entre o social e o ambiental, em vez de serem analisado como dois pilares distintos. É tempo de adotar uma abordagem centrada no ser humano para a mitigação e adaptação às alterações climáticas e dar prioridade aos investimentos nas pessoas para assegurar que a transição verde que se avizinha seja justa e inclusiva.

O primeiro passo para os empregadores deve ser a elaboração de uma estratégia coesa de talentos. Isto começa com a avaliação das competências de que cada organização necessitará nos próximos dois a cinco anos. Por exemplo, o Grupo Adecco está a apoiar os principais atores da indústria automóvel a melhorar e requalificar trabalhadores, desde especialistas em mecânica a engenheiros de software, para melhor preparar as organizações para a revolução elétrica.

 

3. Transformação digital e trabalho híbrido

Há duas partes fundamentais para uma transformação digital bem-sucedida. A primeira é a transformação das indústrias e empresas e o seu efeito nas competências (por exemplo, olhando para a produção e fabrico). A segunda é o impacto que a digitalização tem na cultura de uma organização (por exemplo: recrutamento digital e remoto, integração na empresa – onboarding e liderança).

Todas as organizações irão tornar-se ‘indústrias inteligentes’ e as transformações digitais estão a afetar as empresas transversalmente, independentemente do setor de atividade ou dimensão, sendo certo que nem todos os setores têm hoje o mesmo grau de maturidade digital, pelo que os desafios dos passos a dar podem ser diferenciados.

Uma coisa é falar da transformação digital, outra é implementar estas mudanças. Não se trata apenas de construir as ferramentas, tecnologia e infraestruturas certas para facilitar esta transformação, pois sem pessoas com as competências adequadas para as compreender, gerir e operacionalizar serão apenas um investimento inconsequente.

Os líderes e responsáveis de recrutamento (RH) irão desempenhar um papel crucial nas organizações que se preparam para o futuro, no contexto do qual é necessário definir as competências necessárias o sucesso da digitalização. Estudos demonstram que 68% dos líderes de RH não têm atualmente uma estratégia para o futuro do trabalho. Mas os profissionais desejam-na. O estudo do Grupo Adecco ‘Resetting normal: defining the new era of work/2021’, com 15 mil respondentes em 25 países, revelou que 66% dos trabalhadores acreditam que precisam de adquirir novas competências para manterem o seu potencial de empregabilidade nos próximos anos, e apenas 37% dos funcionários sentem que a sua empresa está a investir nas suas competências e desenvolvimento de carreira.

O novo paradigma de trabalho, marcado pela flexibilidade de horários e repartição do tempo entre trabalho remoto e presencial, continuará a ser um desafio para muitos líderes. Mas é certo que não vai haver um regresso ao passado: a mudança para ambientes de trabalho mais flexíveis e híbridos é um dado do presente e do futuro. Com as políticas adequadas em vigor para apoiar a transição para o trabalho flexível, a sua implementação a longo prazo irá impulsionar a produtividade, promover um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, e abrir novas bolhas de talento, que ajudarão a resolver a questão da escassez que se sente no mercado. É crucial acompanhar a transição digital e a mudança para modelos de trabalho flexíveis para torná-la inclusiva, justa e lucrativa. Trata-se de envolver a organização como um todo.

 

4. Problemas de retenção de talentos

A relação entre as empresas e as suas pessoas está a sofrer uma mudança radical. Muitos profissionais estão a repensar o que é importante na sua vida profissional, o que em alguns países (como os EUA) está a levar a que as pessoas deixem os seus empregos em números recorde, conforme revelou o estudo referido, e esta é uma tendência que se está a alargar a muitos países. Pela primeira vez em anos, os profissionais têm a vantagem face aos empregadores.

Este fenómeno acentuou o problema da escassez de talentos. Antes da pandemia, era uma realidade devida ao envelhecimento da força de trabalho, ao desajustamento de competências e a outros fatores, como limitações à mobilidade laboral.

Mas a tendência agravou-se e a retenção de talentos não se resolve com simples bónus ou prémios salariais. Há uma desconexão real entre os profissionais e os seus líderes; muitas pessoas sentem-se desencantadas com as suas posições e perspetivas de carreira, tal como revelou o estudo ‘Resetting normal: defining the new era of work/2021’.

2022 será o ano do poder dos profissionais no local de trabalho. As empresas terão de dar prioridade ao desenvolvimento da carreira dos seus funcionários através de ações de upskilling reskilling, permitindo horários flexíveis e modelos híbridos de trabalho. Do mesmo modo, os cuidados de saúde e o bem-estar ocuparão um lugar central no mundo do trabalho, uma vez que os profissionais exigem mais, e melhores benefícios, bem como um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Tudo isto é uma questão de empatia empresarial. Líderes e empregadores terão que ouvir e compreender as necessidades das suas pessoas se quiserem proporcionar-lhes oportunidades e um sentido de propósito. E esta será a chave-mestra da estratégia para a retenção de talentos em 2022.

 

5. Equidade e proteção social

Na esteira da pandemia, a inclusão, a equidade e a igualdade crescem em importância para as pessoas. Igualdade significa que a todos são atribuídos os mesmos recursos ou oportunidades, mas não tem em conta os seus diferentes pontos de partida, necessidades e circunstâncias. E é este conceito que terá que mudar.

Cada profissional tem contextos diferentes, enquadramentos culturais distintos e os líderes terão necessidade de distribuir recursos e oportunidades específicos para alcançar resultados globais positivos e igualitários. Ou seja, a igualdade e inclusão requer que se atribua às pessoas recursos à medida. Basta pensar na situação das mulheres no mercado de trabalho, em que o impacto da pandemia foi absolutamente desproporcionado. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, menos mulheres do que homens, que perderam o seu trabalho durante pandemia, irão recuperar o emprego no período pós-Covid-19.

A pandemia expôs de forma evidente e dura que nem todos os profissionais têm acesso igual a proteção social. Como sociedade, é essencial assegurar melhor o acesso à proteção social, especialmente aos profissionais informais e independentes.

E, finalmente, a desigualdade e a inclusão também se referem às diferenças entre profissionais que trabalham em regime presencial e remoto. Que vantagens terão os uns em relação aos outros? E como irão os líderes equilibrar a gestão da sua equipa com horários de trabalho flexíveis? É uma questão que terá de ser necessariamente antecipada e abordada rumo à igualdade.

 

6. Transparência e responsabilização da liderança

A empatia empresarial desempenhará um papel importante no contexto do novo paradigma de trabalho. Os líderes terão que compreender necessariamente melhor as suas pessoas e equipas e mostrarem compaixão pelos seus funcionários.

2022 será o ano da prestação de contas. Tanto os países como as empresas serão julgados em função da forma como vivem à altura da sua liderança de pensamento e das suas promessas públicas.

Já não é aceitável que as empresas façam promessas vazias e reuniões de início de ano cheias de intenções que caiem em ‘saco roto’. É absolutamente essencial ser realista, transparente e responsável ao colocar ação nas intenções e projetos anunciados.  Os dados mostram que 36% dos líderes de RH dizem que lutam para responsabilizar os líderes empresariais pelos resultados. Neste início de 2022, os líderes têm que ter a noção que as boas intenções podem comprometer a sua organização se não forem suportadas por ações concretas e em harmonia com o que o mercado de trabalho clama no contexto de um novo paradigma.