O consultor de recrutamento na Era da Inteligência Artificial: que papel?

13 Novembro, 2024

O recurso à inteligência artificial no recrutamento tem vindo a transformar os processos de atração de pessoas e talento.

As empresas, sobretudo, aquelas tecnologicamente mais avançadas, têm beneficiado da agilidade proveniente de algoritmos na triagem e análise automáticas de CVs. Algumas empresas já recorrem a robôs para entrevistas iniciais, com base em competências essenciais requeridas para determinada função.

Mas será que com a evolução preponderante da IA, o papel do consultor de recrutamento, vai tornar-se obsoleto? Acreditamos que não. Bem pelo contrário. O consultor de recrutamento continua a ter o papel principal – que sempre teve – mas ainda com mais relevância, no processo de recrutamento e seleção.

É certo que a IA é uma ferramenta que liberta o consultor de algumas tarefas rotineiras e mecânicas inerentes ao processo de recrutamento. Porém, vemos a IA como uma ferramenta complementar, que otimiza e facilita o processo em questão. O consultor, por seu turno, tem um papel relevante na análise crítica da informação proveniente da utilização da IA. É, pois, fundamental que o consultor de recrutamento se interrogue acerca dos resultados fornecidos acerca de um determinado candidato, ou de um CV e, consequentemente, confirme determinados dados. É também papel do consultor de recrutamento validar se o candidato tem as soft skills exigidas para a função, analisar o potencial do perfil para a função a recrutar, ou para outra que a empresa possa necessitar no futuro. O consultor também verifica se existe fit cultural entre o candidato e a empresa. A intervenção do consultor na tomada de decisões estratégicas, em conjunto com os seus clientes, afigura-se, igualmente, premente, dado que conhece a sua realidade, os seus valores e as suas necessidades.  Finalmente, o consultor traz humanidade ao processo de recrutamento e seleção. Acompanha o candidato no processo de recrutamento, cria empatia com ele, cria pontes, constrói uma relação que pode manter-se ao longo dos anos, aconselha, com base na informação partilhada e na relação criada. Parte desse aconselhamento prende-se com dois pontos cruciais na gestão de qualquer processo de recrutamento: um desses pontos respeita à análise das concretas motivações do candidato para uma mudança profissional, e o outro ponto – intimamente relacionado com o primeiro -, corresponde à intermediação que o consultor enceta entre candidato e a empresa a que aquele se candidata. É crítico que o recrutador avalie se aquilo que motiva o candidato para um novo projeto profissional é a insatisfação com o atual emprego, a ambição de progressão de carreira, um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional (flexibilidade), a melhoria das condições salariais e/ou salário emocional, ou outras componentes. Tendo todos estes fatores em consideração, o consultor estará apto a direcioná-lo para determinada posição/função. No fim do dia, o conselho final do consultor até poderá ser: “não mude agora; talvez não esteja preparado”. De igual modo, é essencial que o consultor de recrutamento, atendendo às preocupações específicas do candidato e às necessidades concretas da empresa, seja um facilitador na comunicação entre ambos, e contribua para o alinhamento da proposta de trabalho a apresentar pela empresa, com os objetivos e motivações específicas do candidato. Visa-se, pois, alcançar uma solução win win para todos os intervenientes.

Ora, tudo isto requer contacto humano e, felizmente, não há máquina, nem algoritmo que substitua relações humanas!

Nesta Era da Inteligência Artificial, o consultor de recrutamento tem, e continuará a ter, o papel principal na hora de selecionar e recrutar talento.

 

Por: Matilde Macedo, Manager Tax & Legal Finance, Adecco Recruitment, Portugal